O que é autocompaixão?

 

             Este texto surgiu de uma dúvida de uma das pessoas que convidei para o lançamento do meu novo livro sobre autocompaixão “Quando aprendi a me amar” (convite em anexo!). Ela responde meu convite da seguinte forma: “Querida Karen, vou sim no lançamento mas me explique, o que é autocompaixão?”

           Como a resposta parecia complexa e bastante pertinente, achei melhor escrever este texto para entendermos melhor sobre o tema. Para iniciar, talvez fosse importante começarmos com o conceito de compaixão. O termo tibetano para compaixão é nying je, que significa “conotação amorosa, afeição, gentileza, generosidade”. A compaixão entra em evidência quando o mundo enfrenta questões como as crises econômicas, as disputas religiosas, o preconceito e outras questões que tem favorecido a necessidade de uma maior cooperação e menor competição entre as pessoas. Assim, a compaixão seria fundamental para a natureza do coexistir em grupo e para a nossa adaptação ao meio.

             Paul Gilbert (2014) define compaixão como uma consciência profunda do sofrimento de uma pessoa ou dos seres humanos e um esforço para amenizá-lo. Assim, observamos na definição deste autor que dois aspectos são fundamentais para definirmos se o que sentimos pode ser compaixão ou não: 1) a presença de sofrimento e 2) uma ação para o amparo, acolhimento ou diminuição do sofrimento. Vejamos um exemplo: se estou com dor de cabeça, uma pessoa pode perceber que estou em sofrimento e oferecer um analgésico. Neste caso observamos: 1) a presença do sofrimento (dor de cabeça) e 2) uma ação de amparo, acolhimento ou diminuição do sofrimento (oferecer um analgésico).

         Utilizamos o termo compaixão quando falamos desta sensibilidade ao sofrimento de outras pessoas. A sensibilidade ao nosso próprio sofrimento nomeamos como autocompaixão. Pema Chödron (2007) diz que apenas quando conhecemos a nossa própria escuridão nós podemos estar presentes na escuridão do outro.

            Por que é tão difícil manifestar o mesmo carinho e cuidado que oferecemos para as pessoas que amamos para nós mesmos? Por que somos tão duros e críticos conosco em momentos que precisamos de amparo e aconchego? Por que não nos tratamos com a mesma sensibilidade que tratamos as pessoas que amamos?

         Estas são as perguntas que a ciência da autocompaixão tem procurado responder. Pesquisadores ao redor do mundo estão cada vez mais interessados nos efeitos que a compaixão pode trazer para o manejo do sofrimento e estão em busca de compreender como isso se dá. Kristin Neff (EUA), Paul Gilbert (Inglaterra), Karen Armstrong (Inglaterra), Kristhopher Germer (EUA), Thupten Jinpa (Tibet / EUA), Javier García Campayo (Espanha), Lama Tenzin Negi (EUA) e os ensinamentos do Budismo Tibetano pelo Dalai Lama são bibliografias significativas sobre o tema. Alguns autores desenvolveram propostas terapêuticas e até mesmo modelos de psicoterapia individual que visam o desenvolvimento e o treino da compaixão e da autocompaixão.

          Cenas do próximo capítulo: para este texto não ficar muito longo, prometo escrever em um próximo post sobre alguns dos componentes da autocompaixão: a gentileza, mindfulness e a humanidade comum. Espero todos no dia 6 de Novembro!

Referências:

Chodron, Pema (2007). The places that scare you: a guide to fearlessness in difficult times. NY: Shambala

Gilbert, P. e Choden (2014). The Mindful compassion. EUA: New Harbinger

 

 

 

 

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